domingo, 8 de janeiro de 2012


diga:

quando foi
sua última prece,

consolo a quem adoece,
pedaço de bolo ao faminto,
abraço verdadeiro por instinto

- amar ao próximo como a si mesmo -

é tão mais difícil do que parece
ninguém se ama por inteiro
e se dá o quanto merece

amor é de dentro
e floresce:

doe-se


sim, eu gostaria de voltar
ao começo

pra repetir cada tropeço
que me trouxe até aqui

que graça teria a vida
sem as lágrimas que perdi?

de tão valiosa,
a sombra é brilhante

só depois se percebe
o que não se vê durante
 


E a gente pode DEVE ser maior. Basta que a gente queira. E querer não é poder, como as pessoas dizem por aí. QUERER É FAZER. E fazer não é nada fácil. Existem momentos na vida em que a gente precisa ser mais forte do que acha que pode, mais inteligente do que acha que é e mais nobre do que acha que consegue. E como é que a gente consegue? Querendo. E quando a gente quer demais uma coisa, a gente é capaz de feitos que a nossa mente nem consegue conceber. A gente mata um leão por dia. A gente acaba esquecendo das poças d’água, canalizando toda a nossa força para o embate inevitável com os predadores que a vida coloca na nossa frente. E são muitos.
Os sonhos são objetivos que a gente re-batiza desse jeito apenas para que pareçam inatingíveis. E o nosso salto pode ser do tamanho que a gente conseguir imaginar. Basta que a gente perca o medo de molhar os pés.

Décimo segundo fragmento da terceira voz

Não consegui. Do grande esforço através dos doze meses, doze signos, doze faces, só guardo essa certeza. Que tonta travessia. Tudo bem, descansa. Faz parte não conseguir. Como Sísifo, se queres mitologias. Queres ainda? Por favor, estou farto. Brilhos baratos, as jóias eram todas falsas. Está certo, mas não quiseram te fazer mal. O mal não existe reverso do bem. Tanto faz, só peço que me deixem. Vou ficar encostado na árvore até amanhecer. Olhos abertos, feito uma vela acesa. Se ela insistir, direi que não tenho piedade alguma. Que não compreendo, não aceito nem perdôo mais a loucura. Se ele vier, pedirei que fique. Serei bom para ele. Mentira, não pedirei nem direi nada a ninguém. É indivisível, aprendi. Talvez consiga dormir. Talvez consiga acordar amanhã finalmente livre de tudo isso. Terei apenas um corpo, poucos pensamentos todos pequenos. Sei que foi inútil quando os vejo obstinados recomeçar e recomeçar sempre. Uma serpente que morde a própria cauda, um círculo infinito de enganos, Maya. Talvez não, perdeste a fé? Não te castiga assim, está tudo em paz. Nunca houve cães. É como uma cantiga de ninar nas cinzas do fim do mundo. Um barbitúrico, se preferires. Entorpece, melancólico, te leva para longe. Já se perdeu, não há futuro. Repousa, meu amigo. Deixa-me passar a mão nos teus cabelos. Está amanhecendo. Em voz baixa, eu canto para te enganar.
Caio Fernando Abreu
'Será que você é capaz de entender isso? Será que você consegue esquecer por um segundo a sua monumental frustração para entender que outras pessoas podem ter tido relações mais dignas que as suas? (...) Você não pode fazer isso. Uma pessoa não é só um amontoado de frasezinhas supostamente brilhantes. Você não sabe o esforço enorme que estou fazendo para (...). Ah, você e seus truques. Você e suas palavras impensadas. Você e suas brincadeiras espirituosas. Você e seus traumas, seus ódios, seus nojos. Eu não tenho nada a ver com isso. Estou cansado dos seus números, da sua inconsequência, da sua neurose, da sua. – Levantou-se e empurrou a cadeira – Eu vou embora, eu já devia ter ido embora há muito tempo. Não tenho mais paciência nem cabeça para esse tipo de coisa miúda."
Caio F.
“Esquecer e perdoar. É isso que dizem por aí.
É um bom conselho, mas não muito prático.
Quando alguém nos machuca, queremos machucá-los de volta.
Quando alguém erra conosco, queremos estar certos.
Sem perdão, antigos placares nunca empatam, velhas feridas nunca fecham.
E o máximo que podemos esperar é que um dia tenhamos a sorte de esquecer“

Grey's Anatomy

E é também porque todo mundo só sabe exigir de você. E todo mundo só espera que você esteja bem e forte sempre. É porque ninguém sabe, no fundo, estender a mão, oferecer ajuda, aliviar a carga. A única coisa que sabem é pedir sua parte. Mais uma coisa, mais um favor, mais um capricho. É porque ninguém se dá conta de que por dentro você já é só cacos e nervos cortados, todos prontos para um surto qualquer. A eles não importa, desde que por fora você mantenha o sorriso e a gentileza e os bons modos.

Não interessa, de verdade, o que você sente, desde que não os afete. Console-os sempre, mas a sua dor é problema SEU, ouviu?! Vire-se com ela. E daí que você sente vontade de abandonar tudo? Não esquecendo o prazo de entrega daquela folha ali, o resto é problema seu. E daí que você pense em juntar todas as suas coisas e botar fogo no seu quarto? Não deixando de fazer aquela montagem, o resto é besteira. E daí que você pense em esvaziar na boca os dois frascos de rivotril do armário? Desde que deixe pronto aquele texto que era para ontem, faça o que bem entender.

Chega!

Estou cansado. Estou no meu limite. E ninguém nota. E ninguém se importa. E ninguém se afeta com isso. Desde que eu continue sendo útil quando precisarem, desde que eu consiga ainda me arrastar, desde que eu cumpra ritualmente com as obrigações que me impõem o resto é balela.
(Vinicius Linné)
anjomaldito.blogspot.com
Meu coração é um mendigo mais faminto da rua mais miserável.Meu coração é um ideograma desenhado a tinta lavável em papel de seda onde caiu uma gota d’água. Olhado assim, de cima, pode ser Wu Wang, a Inocência. Mas tão manchado que talvez seja Ming I, o Obscurecimento da Luz. Ou qualquer um, ou qualquer outro: indecifrável.
"É fácil amar o outro na mesa de bar, quando o papo é leve, o riso é farto, e o chope é gelado.
É fácil amar o outro nas férias de verão, no churrasco de domingo, nas festas agendadas no calendário do de vez em quando.
Difícil é amar quando o outro desaba. Quando não acredita em mais nada. E entende tudo errado. E paralisa. E se vitimiza. E perde o charme. O prazo. A identida...de. A coerência. O rebolado.
Difícil amar quando o outro fica cada vez mais diferente do que habitualmente ele se mostra ou mais parecido com alguém que não aceitamos que ele esteja.
Difícil é permanecer ao seu lado quando parece que todos já foram embora. Quando as cortinas se abrem e ele não vê mais ninguém na plateia. Quando o seu pedido de ajuda, verbalizado ou não, exige que a gente saia do nosso egoísmo, do nosso sossego, da nossa rigidez, do nosso faz-de-conta, para caminhar humanamente ao seu encontro.
Difícil é amar quem não está se amando.
Mas esse talvez seja, sim, o tempo em que o outro mais precisa se sentir amado. Eu não acredito na existência de botões, alavancas, recursos afins, que façam as dores mais abissais desaparecerem, nos tempos mais devastadores, por pura mágica. Mas eu acredito na fé, na vontade essencial de transformação, no gesto aliado à vontade, e, especialmente, no amor que recebemos, nas temporadas difíceis, de quem não desiste da gente." 
Ana Jácomo

O que acontece..

“Ora veja… é o que sempre acontece às pessoas românticas: enfeitam uma criatura, até o último momento, com penas de pavão, e não querem ver, nela, senão o que é bom, muito embora sentindo tudo ao contrário. Jamais querem, antecipadamente, dar às coisas o seu devido nome. Essa simples idéia lhes parece insuportável. A verdade, repelem-na com todas as forças até o momento em que aquela pessoa, engalamada por elas próprias, lhes mete um murro na cara”
- (...) Explique-me: por que não havemos todos de ser como irmãos uns para os outros? Por que motivo, quando nos encontramos diante de outra pessoa, mesmo que ela seja a melhor do mundo, havemos sempre de esconder e de calar algo? Por que não havemos nós todos de dizer com absoluta sinceridade aquilo que trazemos no coração, quando sabemos muito bem que as nossas palavras não seriam em vão? Parecemos todos mais frios e taciturnos do que somos na verdade, pode-se dizer que as pessoas têm medo de se comprometer expondo com franqueza os seus sentimentos.

Fiódor Dostoiévski - Noites Brancas

Dá vontade de mandar meia dúzia de gente tomar no * e correr pra casa chorando, se trancar no quarto pra tomar um toddy e jogar playstation até ficar vesga. Isso de escolher qual cara eu vou vestir hoje fode com tudo. Sempre. É, eu confesso que não é exatamente a realidade que eu esperava encontrar. Talvez isso mude. Talvez você entre na minha vida sem tocar a campainha e me sequestre de uma vez. Talvez você pule esses três ou quatro muros que nos separam e segure a minha mão, assim, ofegante, pra nunca mais soltar. Talvez você ainda possa pular no rio e me salvar. Ou talvez eu só precise de férias, um porre e um novo amor. Porque no fundo eu sei que a realidade que eu sonhava afundou num copo de cachaça e virou utopia.
“Mas to me divertindo, ué. Não é isso que mandam a gente fazer? ... Não fica todo mundo dizendo pra gente parar de tanto drama e se divertir? Poxa, to só obedecendo todo mundo. Não é isso que todo mundo acha super divertido?... Já era, Zé. É isso que chamam de ser esperto? Nossa, então eu sou uma ninja. (...)"
Meu coração é um álbum de retratos tão antigos que suas faces mal se adivinham. Roídas de traça, amareladas de tempo, faces desfeitas, imóveis, cristalizadas em poses rígidas para o fotógrafo invisível. Este apertava os olhos quando sorria. Aquela tinha um jeito peculiar de inclinar a cabeça. Eu viro as folhas, o pó resta nos dedos, o vento sopra.
Vai passar, tu sabes que vai passar. Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe? O verão está ai, haverá sol quase todos os dias, e sempre resta essa coisa chamada "impulso vital". Pois esse impulso às vezes cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te supreenderás pensando algo como "estou contente outra vez". Ou simplesmente "continuo", porque já não temos mais idade para, dramaticamente, usarmos palavras grandiloqüentes como "sempre" ou "nunca".

sábado, 7 de janeiro de 2012


Em todos os lugares que eu ia, eu buscava um sinal teu, um cheiro, um jeito, qualquer coisa que fosse, só pra que eu pudesse me apegar ao detalhe de não estar tão sozinha, nesse mundão de Deus. Mas eu estava. E como quem procura motivos, eu me prendia a palavras, gestos ou promessas, pra continuar, quaisquer coisa que eu tivesse que continuar. É como se eu fosse virar para o lado e a qualquer instante dar de cara contigo, é como se tu fosse me ligar a qualquer minuto do dia, dizendo que está passando aqui pra me ver, me abraçar, conversar comigo. É como se eu te tivesse aqui, pra ter qualquer briguinha boba, fazer qualquer birra atoa, só pra ter que ficar brava e depois tu ter que me conquistar beijo a beijo, até que eu esquecesse de qualquer coisa que tivesse me deixado irritada ou chateada. Mãos dadas, cada toque, cada cheiro, cada beijo, cada movimento automático como se a gente já soubesse, como se fosse sincronizado o nosso passo, o nosso ritmo, nós agíamos, tão silenciosos e intensos, alem de tudo. Pra mim foi e ainda é como se eu tivesse vivido uma história de anos, mas que na nossa realidade durou meses, ou  nem isso. A falta aperta, a saudade bate, nada que eu faça substitui te ter aqui, nenhum abraço é igual, nenhum timbre de voz, nem um riso, nem o jeito de andar, nem o modo como a tua boca se mexia quando tu falava comigo, nada disso eu encontro em alguém, nem parecido, muito menos igual. Os dias não passam arrastados demais, nem corridos demais. Dias se tornaram apenas dias, e agora é tão e somente um dia após o outro. A espera é grande, a ansiedade também. E assim como tudo é em proporções maiores, tanto as palavras, como os versos que elas formam. Pode ter certeza que o sentimento também.

Créditos : 
http://maisamorporfavor.blogspot.com/